Paixão e coração pela seleção
>> quinta-feira, 9 de julho de 2009
MISSÃO ÁFRICA: Como começou a história de acompanhar a seleção brasileira?
CLÓVIS FERNANDES: Quando eu era bem jovem, meu pai não era muito ligado a time de futebol, mas quando o Brasil jogava ele ficava apaixonado com as vitórias. Chegava a ficar enlouquecido, dava até tiro de espingarda para o alto. Através do rádio eu ouvia toda aquela emoção que tomava conta dele em relação ao time brasileiro e aos mundiais. Isso com quatro anos eu me lembro de 58, já em 62 com a idade mais avançada, eu vi a coisa mais séria, ele mais emocionado e a lembrança é maior. Já em 70, após a conquista da taça Jules Rimet, eu fiz a promessa de acompanhar o Brasil nos mundiais, então 20 anos depois eu faço minha primeira aventura para a Itália em 1990.
M.A: Como foi a ida ao primeiro mundial?
C.F: Eu estava assistindo ao jornal e começaram a passar as cidades que sediariam os jogos. De repente toda aquela vontade que estava guardada desde jovem falou mais alto e eu fiquei profundamente animado em acompanhar a seleção brasileira na Itália. Conversei com a minha mulher e quinze dias depois eu estava desembarcando na cidade de Milão. De lá para cá não parou mais e hoje são 111 jogos com o Brasil, amanhã vai ser 112 e se Deus quiser, mais e mais.
M.A: Quantos países o senhor já visitou?
C.I: São 46 países. Eu cheguei aqui com 45 e com Lesoto ( um pequeno país dentro da África do Sul) serão 46. Com esses números eu me considero o jogador em atividade que mais jogos tem pela seleção brasileira, porque para mim eu sou mais que um torcedor, eu me acho o décimo segundo do time. Eu estou sempre junto com a seleção e vai será assim sempre, se deus quiser. Isto é a minha vida e faço disso a minha cachaça, meu arroz e feijão.
M.A: Como foi a reação de sua família ao saber de sua decisão?
C.F: Em 90 eu falei para minha mulher que ia dar uma chegadinha em Milão e já voltava. Parece que esta viagem não tem fim. Eles conseguem entender bem, porque eu vou e volto, tenho todo a aceitação deles. Desde 94 meu filho Franklin viaja comigo, o Gustavo tem viajado também e graças a esse apoio eu consigo realizar isto.
M.A: Você conta com algum patrocínio para bancar as despesas?
C.F: É tudo uma correria, eu hoje não tenho um patrocínio direto que diz que vai me manter e me dar ingresso. Enfim, eu tenho um site chamado http://www.gauchosnacopa.com.br/, esse site está passando o número de 26 milhões de acessos e ali agente tem os parceiros, onde se pode encontrar o link deles no próprio site e na caminhonete. São parceiros nossos nesta caminhada, com isso um me dá a passagem, outro uma ajuda de custo e nos ajudam a manter o sonho vivo. Claro que eu também adiciono dinheiro do meu bolso, mas hoje é bem inferior em relação ao que foi quando comecei.
M.A: Com um currículo extenso, qual mexeu mais com você?
C.F: Cada momento tem sua particularidade. Eu já saí eliminado nas oitavas de finais, nas quartas, também já ganhei Copa do Mundo e estava lá quando perdemos para a França em 98. Penso que a Copa da Coréia e do Japão foi extremamente importante, porque tínhamos uma liderança gaucha na seleção, teve muitas dificuldades para se classificar. Saiu desacreditada por causa disso e vi um time crescendo aos poucos na competição.
M.A: Qual foi sua impressão sobre a África do Sul?
C.I: Cheguei aqui neste país fantástico, a cada dia eu me surpreendo. Eu vim preparado para conhecer um país em desenvolvimento, mas pensava que ele fosse inferior ao Brasil. A verdade é que estão em um grande desenvolvimento e com um povo totalmente hospitaleiro. Estou muito contagiado com o país e juntamente com as pessoas. Penso que a primeira preocupação da FIFA é em relação aos estádios, por que é onde as pessoas vão estar, então a preocupação é com elas. Pelo o que tenho vivido aqui, eu estou certo de que o país está preparado para a copa de 2010. O pouco que falta será feito e eu penso que alguma coisa deixará a desejar, como mobilidade urbana, mas se só faltar isso acredito que na alegria juntamente com as pessoas que aqui virão , tudo será recompensado.
M.A: Sua outra paixão no futebol é o Grêmio. Como se dá está paixão?
C.F: O Em Porto Alegre você torcer para o Grêmio é uma guerra, até porque existe uma rivalidade com o Internacional. Na minha família existem torcedores dos dois times e a peleia é feia. Eu nasci gremista e nunca me vi torcendo para outro clube, então tenho carinho por ele. Sou cônsul do Grêmio,
por onde vou levo coisas para as autoridades.
M.A: Você já tem data para parar?
C.I: Antes da Copa América da Venezuela eu descobri que tinha um problema de saúde. Tive hepatite C e fui vetado pelo médico de ir, pois precisava ficar em um lugar refrigerado e na Venezuela é muito quente, mas eu fiz todos cuidados e voltei campeão. Oito meses depois eu fui descobrir que eu tinha que tirar um ruim e desde então eu estou aqui. Estou feliz, não sei o limite disso, porem só um pode responder e é Deus. Pelos sinais que ele me passa, eu devo ir longe.
M.I: Fala um pouco da Taça, ela que está sempre com você.
C.F: Eu sem a taça e o chapéu, sou cachorro sem dono. Essa réplica começou a fazer parte da minha vida em 2002 na Coréia e no Japão, onde eu fiz a promessa que ia carregá-la 24h por dia até ser campeão. Ela é pesada e tem mais de sete quilos, também possui o peso e o tamanho da original.
MI: Como surgiu a idéia de criar o site gaúchos na copa?
C.F: Quando eu participava de uma copa e voltava, eu ficava contando as coisas vividas e via os olhos de cada um brilhando. Parecia que eles se transportavam para lá e como eu não podia levar todos os meus amigos eu pensei em criar o site para fazer com que eles se sentissem lá. É a única página virtual que não fala de futebol e sim de torcedor, emoção e sentimento.